A dança como resiliência, por Carolina de Lima Freire

 

Em Cuba acredita-se o que ser bailarino seja um jeito de expressar a sua alegria, amor, e esperança através do corpo, das expressões dos rostos. Poder compartilhar esse sentimento com uma plateia que encanta a leveza, sutileza que o ballet apresenta é um momento em que os bailarinos esquecem de todos os problemas e dificuldades que o país apresenta. 


Através da dança, os melhores bailarinos têm a esperança de conseguirem sair do país e melhorar suas condições de vida. É exatamente isso que eles mostram, uma garra, um esforço para se tornarem os melhores. Por isso acho que essa arte está associada a resiliência, pois ela é nada mais que a adaptação a qualquer adversidade da vida. Saber agir nos momentos certo, no caso deles são excelentes bailarinos, acaba sendo uma forma de crescimento pessoal ajudando muito a aumentar a confiança e a esperança. Quando fiquei em Cuba, principalmente quando estava dançando dentro da Escola Nacional e posso descrever que era uma escola acabada ,sem estrutura, onde os vitrais eram quebrados, as salas sem ar condicionado, sem ventilador ,sem papel higiênico nos banheiros, mas a energia da sala de aula, a alegria, a vontade, a garra desse povo me encantou ,parecia que todos os problemas e condições de vida era deixado de lado, e queriam nos mostrar, de uma forma bem receptiva que todo esforço valia a pena para ter uma esperança de vida melhor, esse gesto me emocionou muito, com coisas muito simples e fazendo aquilo que amamos, com responsabilidade conseguimos enfrentar todas as dificuldades da vida.


A arte pode funcionar como uma válvula de escape para diferentes situações da vida das pessoas. Quando se precisa liberar sentimentos e emoções, pode-se pensar na dança como possibilidade de expandir ao mundo o que sente - em exemplo tem-se o ballet, que pode ser usado em diferentes ritmos, com passos que se adequem ao estilo da emoção. Em uma situação de raiva, a dança ajuda no relaxamento e também na liberação do pensamento ruim da mente, quando desempenhamos os passos que demandam concentração e direcionamento da energia. Em contrapartida, sentimentos como solidão e ansiedade também podem ser curados a partir da dança, fazendo-a em grupo ou com músicas que ajudem a pessoa a ser encorajada. O papel curativo da dança vai além de auxiliar diferentes atmosferas de emoções, pois perpassa a possibilidade de criar novas sensações que substituam e superem as antigas.


A dança trabalha com o equilíbrio do corpo (luta contra a gravidade), o reconhecimento e superação de limitações, busca pela estética e perfeição que ultrapassa os horizontes desta arte. O autoconhecimento gerado pela dança transforma os corpos em entes ligados ao movimento e reconhecimento da arte e estética mesmo no mundo fora da dança. A bailarina é um elemento vivo da arte, que carrega as noções do ballet em outras situações. Além do autoconhecimento, também é aprimorado o self, onde a pessoa passa a reconhecer mais do que o seu corpo também os seus pensamentos e seu controle fino em situações, aprendendo a corrigir os erros e ir além do que se é posto no cotidiano, assim como no ballet. 


Concluo que a visibilidade da dança como arte e como parte da filosofia reflexiva são importantes para a sociedade, já que muitos se beneficiarão das coreografias em suas vidas pessoal e coletiva. 


(Imagem: daniel-dHpp26q9QnY, Unsplash)

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