Até que ponto o ser humano é regido pelo medo?, por Júlia Rocha Zanella


O medo, uma ‘’ansiedade irracional ou fundamentada’’, um ‘’estado afetivo suscitado pela consciência do perigo ou que, ao contrário, suscita essa consciência’’, é algo muito poderoso, influenciável e impossível de ser concretizado. O modo como ele se manifesta nos seus pensamentos e ações é de maneira totalmente involuntária, a qual não temos nenhum controle sobre, mas que pode ser, claramente, detectada por nós mesmos de maneira incrivelmente assustadora e inexplicável. O medo, também, pode estar disfarçado por muitas outras camadas, que o tornam não perceptível, e isso sim o torna mais perigoso ainda, já que conseguirá mudar a maneira como enxergamos situações apresentadas sem ao menos nos notarmos. Assim chegamos a um ponto crítico, pois, caracterizando o medo como inexplicável, inconcreto, instável, tenebroso, terrível e influenciável, como podemos ter total certeza de que as atitudes do ser humano não são totalmente regidas por ele?


Vamos ao básico do medo, ao que sabemos de fato. Segundo a ciência, ele é ligado a um estado em que o organismo se coloca em alerta, diante de algo que se acredita ser uma ameaça. Assim, por exemplo, quando crianças, ao ouvirmos a história do bicho papão, o medo toma conta de nós e em consequência o nosso corpo produz hormônios como a adrenalina, que causam imediata aceleração dos batimentos cardíacos. Esse é o medo perspectivo, enxergamos o medo de uma forma não concreta, mas sabemos que ele está presente, pela reação que ele provoca em nosso corpo. Assim, gritamos e choramos como uma forma de denunciá-lo a alguém, não o deixando penetrar em nossa mente e consciência. Portanto, de alguma maneira ele esteve presente e de certa maneira impulsionou sua ação. 


Baseado no meu estímulo para esse ensaio, que diz “Às vezes temos medo, mas nos dominamos", o livro Senhor das Moscas pode nos abordar o conceito do medo caracterizado como invisível. A história, que tem como personagem um grupo de garotos britânicos cujo voo de evacuação de uma Grã-Bretanha em guerra cai em uma ilha tropical deserta, é considerada tanto uma fábula quanto uma alegoria, por demonstrar como as tentativas iniciais de organizar uma sociedade democrática nos moldes adultos. Nela no início, os pequenos da ilha tem medo por uma imaginária besta, e em consequência denunciam aos mais velhos. Até aí, consideramos o medo como reconhecível, como já apresentado antes, entretanto ele surge, posteriormente, de maneira mais poderosa, forte e ao mesmo tempo invisível, pois começa a fazer  parte de mais de uma pessoa, tendo papel destrutivo, pois domina boa parte do grupo, dando origem ao caos e desarmonia. 

 Está percebendo que o medo é como uma religião ? Ele precisa de credibilidade e com essa, tem poder enorme em todas as nossas ações. Percebemos isso em outra obra, de George Orwell, denominada 1984. Nela o Grande Irmão, líder da nação, mencionada no livro, utiliza o medo de maneira convicta, como uma ferramenta para a tomada de todo o poder. Ele impõe argumentos que seria o salvador de todos, aprisionando o medo da guerra ao opositor, além da perseguição de opositores, que faz com que a população inteira se converta a ele. O medo aqui, se torna totalmente imperceptível e incapaz de ser denunciado,  já que é algo comum a todos, tornando-se capaz de dominar a sociedade.

 Podemos incluir essas características do medo para situações reais, por exemplo, por que não roubamos algo? Sim, é eticamente errado e vai contra as regras estabelecidas pela sociedade e talvez isso partiu de uma escolha livre sua, mas o medo de certa maneira te influenciou e de maneira não visível, já que faz parte de todos nós. Não roubamos por medo ir preso, algo estabelecido por alguém que pode ter boas intenções, mas que incluiu o medo no processo e o usou como ferramenta praticamente universal a todos.

   Outro exemplo seria a sua decisão de tomar ou não banho. Por que você faz isso? Simples, você não quer ficar sujo e contrair doenças. Mas isso vai além. Vamos tomar banho, por que temos medo de tudo isso, medo de ir ao hospital ou ao menos o que os outros pensarão de você.

   Diante de tudo isso percebemos uma coisa. O medo existe e se manifesta de maneiras diferentes, de acordo com sua credibilidade. Mas ele está em todo o lugar, visível ou invisível e sim irá nos influenciarmos a tudo o que fizermos de maneira implícita, ou ou explícita. Segundo o filósofo Jorge Angel Livraga, ele é uma pandemia, uma doença, que abrange o mundo. O medo esconde-se agachado por trás de cada acontecimento de nossas vidas. Às vezes mostra-se como limitações, outras como dúvidas, desconfiança e insegurança, mas que com certeza é uma das causas de ainda permanecermos vivos, pois gera outros sentimentos e bens a você mesmo. Vamos concordar, ter medo de ficar doente ou mesmo de suas mãe brigar com você, é válido para qualquer um e pode trazer felicidade posteriormente na sua vida.


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