A necessidade de Deus, por Carolina Macedo Thees

No mundo atual, existem diversas religiões e crenças quanto a uma força maior, um Deus ou diversos que deram origem a tudo da maneira que conhecemos. Mas como sabemos, todas essas crenças e religiões vieram de um ou mais indivíduos à procura de explicar o mundo e suas constantes transformações. 

A questão é, quando e como isso ocorreu? Quanto tempo levou em um grupo até que se formasse uma crença concreta e compartilhada? Será que um humano, ou um pequeno grupo de humanos crescidos isolados da sociedade teriam alguma crença também? É justamente esse o tema a ser abordado neste ensaio filosófico. De uma aluna que não sabe no que acreditar ainda, procurando entender as origens das crenças coletivas que tanto causam impacto em nossas vidas, seja de maneira boa ou não.

Há milhares de anos nós, seres humanos, procuramos entender de onde as coisas vieram, e porque são como são. Uma questão tão complexa e existencial como essa, é hoje em dia, estudada pela ciência. Mas como era antes disso? Como se explicava para o homem como tudo surgiu? Foram assim que surgiram as primeiras crenças dos homens. A fim de explicar o mundo que nos rodeia, eram criadas teorias baseadas em seres supremos e místicos responsáveis pela criação do universo. 

Quando pensamos em crenças, deuses, hoje em dia, associamos ao conceito de “religião”. Mas até que ponto essas teorias são puramente fé, onde se tornam uma instituição, como uma igreja, um fator social. Até onde o que acreditamos é genuínamente nossa fé. Por exemplo, alguns dos primeiros registros de uma crença coletiva apresentavam animais poderosos, ou deuses baseados em objetos celestes como o Sol e a Lua. Não se tratava de uma religião, simplesmente uma fé em que tais figuras controlavam o mundo. 

Com o tempo essas foram evoluindo e foram criados rituais para honrar ou pedir à estas, ou até mesmo sacrifícios e oferendas. No entanto, se seguir avançando, vão surgindo diversas histórias para explicar os mesmos fenômenos, com isso rituais, que se tornam eventualmente, uma enorme constituição, que por tempos teve poder político e social, como a Igreja Católica teve por tanto tempo. Será que esta instituição tem puramente fundamentos no que se acredita? Para ajudar a refletir, vamos tomar como exemplo. Uma pessoa que hoje em dia crescesse completamente isolada da sociedade, acreditaria em algo? Depois de pesquisar bastante percebi que, na verdade, esse cenário especificamente, envolve um problema que vai além da crença. 

A verdade é que improvavelmente este sujeito seria racional como nós somos. Vivendo isolado não teria a necessidade de comunicação com outros da espécie fazendo com que a racionalidade seja ainda menos estimulada. Portanto não, este não acreditaria em coisa alguma. Mas e se mudarmos um pouquinho o cenário? Digamos: um grupo pequeno de pessoas, novamente, isoladas de toda a sociedade. 

A probabilidade de que a racionalidade seja desenvolvida é bem maior, levando em conta que neste caso seria necessária alguma maneira de comunicação para manter a harmonia entre os indivíduos. Supondo que o grupo desenvolva um racional básico, ainda assim seria extremamente improvável o surgimento de uma crença, isso porque a comunicação não seria clara o suficiente, e dificilmente surgiria um único pensamento coletivo sobre o que teria criado tudo e todos. No entanto, as chances de pensamentos básicos e individuais não são impossíveis, ao menos não tanto quanto no primeiro caso. A verdade é que o desenvolvimento de crenças coletivas surge apenas com vários outros fundamentos desenvolvidos, entre eles uma racionalidade mais avançada, convívio com outros da espécie, e principalmente uma forma de comunicação um pouco mais clara.

Como sabemos, os humanos levaram centenas de anos, de gerações, tradições e troca de histórias através da oralidade até que enfim se formassem crenças entre os grupos, não foi um fenômeno instantâneo. Portanto, devemos assumir que talvez, esse pequeno grupo de pessoas, caso tivessem filhos e continuassem a espécie, talvez um dia chegassem à algo similar com as primeiras crenças. Mas os próprios que iniciaram o experimento não. 

Com base no que foi dito, digamos que um grupo do mesmo tamanho, com pessoas que tenham todos os requisitos indicados (saibam se comunicar bem, tenham contato com outros da espécie, tenham um pensamento crítico e racionalidade concreta), sem conhecimento nenhum, muito menos sobre religiões já existentes, fossem isolados já com estes princípios. Neste caso, ao decorrer do tempo é bem provável que naturalmente, como um ser humano, fossem procurar entender o que há à seu redor, assim provavelmente surgiriam algumas crenças, por fim. No entanto, as chances de as crenças se assemelharem com as que temos hoje, são inexistentes, levando em conta que são infinitas as possibilidades de caminhos e formas de raciocínio que um homem com uma base racional possa tomar.

É aí que está. Seria uma crença pura, uma explicação genuína, na falta de ciências para explicar tudo, na falta de instituições para induzir as crenças como já foram feitas. É uma reflexão bruta, sem estar polida, um pensamento original de porque as coisas são como são. Para provocar uma nova linha, e se os sujeitos tivessem explicações científicas. Se soubessem a origem das coisas como dito pela ciência que temos hoje em dia. 

Com base em estudos e experimentos. Este grupo ainda procuraria uma segunda explicação? Uma teoria de fé puramente pela segurança de ter uma força maior que zela por todos? Ou simplesmente aceitariam os conceitos da ciência como os foi dito e provado? Já é um caso bem mais complexo, que avalia as crenças não apenas como explicação como também sendo um tipo de segurança para os humanos. Mesmo após pesquisas não faço ideia se nessa situação surgiriam outras crenças ou não. Com base nos exemplos fictícios dados acima, percebo que as maiores chances são de que a formação de uma religião institucional, não aconteceria em cenários do tipo. Isso porque envolve em sua construção formas de pensamento muito características de toda a nossa evolução até como somos hoje.

 Provavelmente uma outra sociedade criada do zero não evoluiria no mesmo ritmo e muito menos da mesma forma como ocorreu conosco. No entanto, o conceito de acreditar, de forma mais abstrata, seria provavelmente incorporado por este novo grupo em algum momento, mesmo que não nas primeiras gerações. 

(Foto: William Farlow, fonte: Unsplash)

Comentários

Postagens mais visitadas